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sábado, 18 de dezembro de 2010

Ligéia - Edgar Allan Poe - Parte 6

- Ó, Deus! - quase gritou Ligéia, erguendo-se sobre os pés e estendendo os braços para a frente num movimento espasmódico, quando terminei aqueles versos. - Ó, Deus! Ó, Pai Divino! Deverão ser essas coisas inflexivelmente assim? Não será uma só vez vencido esse vencedor? Não somos uma parte, uma parcela de Ti?. ... quem conhece os mistérios da vontade, bem como seu vigor? O homem não se submete aos anjos, nem se rende inteiramente a morte, a não ser pela fraqueza de sua débil vontade.

E então, como se a emoção a exaurisse, ela deixou os alvos caírem e regressou solenemente a seu leito de morte. E enquanto exalava os últimos suspiros, veio de envolta com eles um baixo murmúrio de seus lábios: "O homem não se submete aos anjos nem se rende inteiramente à morte, a não ser pela fraqueza de sua débil vontade."

Morreu. E eu, aniquilado, pulverizado pela tristeza, não pude mais suportar a solitária

desolação de minha morada, na sombria e decadente cidade à beira do Reno. Não me

faltava aquilo que o mundo chama riqueza. Ligéia me trouxera bem mais, muitíssimo mais do que cabe de ordinário à sorte dos humanos. Depois, portanto de poucos meses de vaguear cansativamente e sem rumo, adquiri e restaurei, em parte, uma abadia que não denominarei em um dos mais incultos e menos freqüentados rincões da bela Inglaterra. A grandeza melancólica e sombria do edifício, o aspecto quase selvagem da propriedade, as muitas recordações tristonhas e vetustas que a ambos se ligavam tinham muito de união com os sentimentos de extremo abandono que me haviam levado àquela remota e deserta região do interior.

Contudo, embora a parte externa da abadia, com sinais esverdinhados de ruína a pender em volta, apenas experimentasse pouca modificação, entreguei-me a perversidade como que pueril, e talvez com a franca esperança de encontrar alívio a minhas tristezas, a exibir dentro dela magnificência mais do que régia. Mesmo na infância, eu tomara gosto por tais fantasias, e agora elas me voltavam como uma extravagância do pesar. Ai! sinto quanto de loucura, mesmo incipiente pode ser descoberta nas tapeçarias ostentosas e fantasmagóricas nas solenes esculturas egípcias, nas fantásticas colunas, nos desenhos alucinados, nos desenhos alucinados dos tapetes enfeitados de ouro.

Tornei-me um escravo acorrentado às peias do ópio, e meus trabalhos e decisões tomavam o colorido de meus sonhos. Mas não devo deter-me em pormenorizar tais absurdos. Permiti-me que fale só daquele aposento, maldito para sempre, aonde conduzi, como minha esposa, num momento de alienação mental - como sucessora da inesquecível Ligéia -, a loura Lady Rowena Trevanion, de Tremaine, de olhos azuis.

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