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sábado, 18 de dezembro de 2010

Ligéia - Edgar Allan Poe - Parte 11

Mas por que irei pormenorizar miudamente os indescritíveis horrores daquela noite? Por que me demorarei a relatar como de tempo em tempo, até quase a hora acinzentada do alvorecer, se repetiu esse horrendo drama de revivificação? E como cada terrível recaída só o era numa morte mais profunda e aparentemente mais irremissível? E como cada agonia tinha o aspecto de uma luta com algum adversário invisível? E como a cada luta se sucedia não sei que estranha mudança na aparência pessoal do cadáver? Permiti que apresse a conclusão.

A maior parte da noite terrível se fora e aquela que morrera, de novo, outra vez, se movera, e agora mais vigorosamente do que até então, embora erguendo-se de um aniquilamento mais apavorante, em seu extremo desamparo, do que qualquer outro. Eu já muito cessara de lutar, ou de mover-me, e permanecia rigidamente sentado na otomana, presa inerme de um turbilhão de emoções violentas, das quais o pavor extremo era talvez a menos terrível, a menos consumidora. O cadáver, repito, moveu-se, e agora mais violentamente do que antes. As cores da vida irromperam, com indomável energia, no seu rosto, os membros se relaxaram e, a não ser porque as pálpebras ainda se mantivessem estreitamente cerradas e porque os panejamentos e faixas tumulares ainda impusessem seu caráter sepulcral ao rosto, eu poderia ter sonhado que Rowena na verdade, repelira completamente as cadeias da Morte.

Mas se essa idéia não foi, mesmo então, inteiramente adotada, eu não pude pelo menos duvidar mais quando, erguendo-se do leito, vacilando, com passos trôpegos, com os olhos fechados e com as maneiras de alguém perdido num sonho, a coisa amortalhada avançou ousada e perceptivelmente, para o meio do aposento.

Não tremi…não me movi.. . pois uma multidão de inenarráveis fantasias, ligadas com o aspecto, a estatura, a maneira do vulto precipitando-se atropeladamente em meu cérebro, me paralisaram, me enregelaram em pedra. Não me movi, mas contemplei a aparição.

Havia uma louca desordem em meus pensamentos, um tumulto não apaziguável. Podia, na verdade, ser Rowena viva que me enfrentava? Podia, de fato, ser verdadeiramente Rowena, a loura, a dos olhos azuis, Lady Rowena Trevanion de Tremaine? Por que, por que duvidaria disso? A faixa rodeava apertadamente a boca; mas então não podia ser a boca respirante de Lady de Tremaine? E as faces, onde havia rosas, como no esplendor de sua vida, sim, bem podiam ser elas as belas faces da viva Lady de Tremaine. E o queixo, com suas covinhas, como antes da doença, não podia ser o dela? Mas, então, ela crescera desde a doença?

Quase inexprimível loucura me dominou com este pensamento? Um salto e fiquei a seu lado! Estremecendo ao meu contato, deixou cair a cabeça, desprendidos, os fúnebres enfaixamentos que a circundavam, e dali se espalharam, na atmosfera agitada pelo vento do quarto, compactas massas de longos e revoltos cabelos: e eram mais negros do que as asas de corvo da meia-noite! E então se abriram vagarosamente os olhos do vulto que estava à minha frente. Aqui estão, afinal - chamei em voz alta -, nunca poderei enganar- me … Estes são os olhos grandes, negros e estranhos de meu perdido amor…de Lady. . . de "Lady Ligéia!"

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